sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Segundo dia – 26 de novembro de 2008

Saio de casa às 14h30min, na Avenida Venâncio Aires, Bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre e me encaminho para o corredor de ônibus na Avenida João Pessoa. Embarco no que diz na frente, em letras garrafais: RODOVIÁRIA. em menos de dez minutos desembarco em frente ao terminal rodoviário (Rodoviária Central de Porto Alegre).

Sol forte, calor intenso. As primeiras impressões vêm pelas narinas: um cheiro forte de urina misturado ao de fritura. Lá dentro, umbigos, pernas e pés à mostra. Pessoas cansadas. Um carrinho elétrico branco com o logotipo da empresa Veppo passa conduzindo uma senhora com ares de triunfo ao lado da sua bengala de madeira escura. Impressiono-me com a limpeza do chão de basalto encerado. Brilha. Não há um único papel, bagana de cigarro, farelo de bolacha ou lata de refrigerante no chão. Nada. Circulo um pouco para sentir o clima.

Logo descubro que o banho (quente ou frio – R$ 6,25) custa quase o mesmo que um a la minuta no Asteca Lanches (R$ 6,99) , mas que é possível mandar um PF (prato feito) por menos que um banho (R$ 4,99) logo ali ao lado, no concorrente mais próximo. Para usar o banheiro para qualquer outra coisa (R$ 1,25) que não seja o banho, é preciso desembolsar quase o mesmo que um risole de carne ou frango (R$ 1,50). Mas há banheiros gratuitos também (sem banho). Fico pensando que os hábitos de higiene, necessidades básicas e alimentação são responsáveis por boa parte da circulação de moedas de baixo valor na cidade (ou não).

Depois de percorrer vagarosamente duas vezes a área total da rodoviária, resolvo aportar no Snack Lanches, em frente à livraria e tabacaria Mundial. Peço um café preto e uma água mineral sem gás, abro meu livro/caderno/agenda de capa preta, destampo a Bic e sigo a escrever.

De vez em quando levanto os olhos em direção a porta ou a janela lateral, observo por segundos os transeuntes, e as idéias fluem sem parar.

Capto pedaços de conversas e pequenas situações que vão virando texto rapidamente. Algumas pessoas se transformam em personagens no ato. O “Livro amarelo do terminal” sobre a mesa.

Compro um chapéu e saio de lá passando um pouco das seis horas da tarde. O pulso cansado, o caderno cheio, a alma leve. Resolvo caminhar até em casa. Bendita rodoviária, penso. Bendita Vanessa Barbara.

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