quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Décimo sétimo dia - 11 de dezembro de 2008

Resolvo, entre um compromisso e outro, digitar e postar o que escrevi na loja de conveniências do posto de abastecimento de combustíveis:


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...Pensava estar em um aquário. Protegido do mundo, mas dependente de um ser que se propusesse a salvar sua vida todos os dias. Alimento e calor. E se ela não viesse? Não o alimentasse? Não aparecesse mais? E teria sempre de admiti-lo. E admiti-la em sua vida. E ser um eterno agradecido.

Os carros passavam lá fora como anjos disfarçados iluminando a noite. E pequenos
demônios a dirigi-los; a envia-los para onde quer que fossem. E havia luzes de natal sendo derramadas dos prédios. E havia música em seus ouvidos. Só, em seus ouvidos. A vida já era um filme; com uma trama toda preparada para a ação, mas onde nada acontecia.

As portas
transparentes se abriam e fechavam em movimentos automáticos à medida que os seres chegavam ou se iam. Alguns atravessavam a matéria sem perceber. E a música era a mesma em várias versões. Dezessete ao todo. Vozes roucas, berradas, límpidas ou agudas. Cada qual com seu estado de espírito. O sinal fechava e abria em vermelhos e verdes para a passagem dos anjos e seus demônios. Dali dava para ver o cruzamento de duas grandes avenidas. Iniciava-se uma chuva leve.

“Está tudo acabado agora, triste amor...”, despertava
Hector para atirá-lo outra vez para dentro de seu sonho forasteiro. Conforme a chuva aumentava de intensidade, a vida ficava mais rápida e Hector retrocedia no tempo. Ela jamais apareceria; ele sabia. Seria possível até que jamais tivesse existido ao exterior da sua mente.

O chão fora do aquário, então totalmente molhado,
refletia o breu celeste; e algumas outras luzes aquarelavam o asfalto da pista e o cimento das calçadas. Lá fora havia cheiro de combustível e barulhos em excesso; e uma faixa de segurança por onde ninguém trafegava. Lá fora estaria ela. Desprovida de um rosto; cerceada pelas circunstâncias; destituída de poesia; desapropriada de ser quem ele queria que ela fosse.

Então tudo era tempestade. Lá fora pouco se enxergava. O aquário era seguro. “E não tem mais nada agora, meu amor”.

Lá fora o tempo corria encharcado e regular como a vida em seu bailado habitual. Lá fora as coisas aconteciam, como acontecem, a seu tempo. O aquário é seco; e seguro. Lá fora estão os peixes anjos
demônios. Aqui dentro um homem, só, olhando pela janela. Lá fora estaria ela.

2 comentários:

Ana Lúcia Pompermayer disse...

Hector promete peixes elétricos pulando deste aquário...

Andréia Pires disse...

queria teu e-mail para mandar um presente do solstícios. :) bjo, bjo.